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Crônica

Milagre na cela 7: Seja você o real milagre

Milagre, essa palavra possui tanto apelo aos desesperados, esquecidos e aos invisíveis que rondam nossa sociedade e, ao mesmo tempo, é tão esquecida e menosprezada pelos que disfrutam do poder, por aqueles que vivem como deuses sendo apenas meros humanos. A palavra remete ao transcendente e divino, é um vocábulo que usamos, geralmente, para expressar tudo que nos surge como mágico, maravilhoso, único e impossível.

Tão poderosa é esta palavra que julgamos somente estar no Divino e Eterno o poder de realizá-lo. Na verdade, costumamos esquecer, talvez intencionalmente, para escaparmos de nossa responsabilidade e dever para conosco e o próximo, que está no coração de cada ser humano, a despeito de raça, credo, sexo e ideologia, o poder divino da transformação, da mudança, do impossível.

Milagre na cela 7 é o típico filme que sabe trabalhar a fotografia, a atuação dos atores e a edição de som para guiar o publico para dentro da situação, para vivê-la, e assim, mergulhar em toda dramaticidade interpretada com maestria, devo repetir, pelo elenco.

Esse filme me fez rever o maravilhoso Meu nome é rádio (2003) e o desafiante Uma lição de amor (2002) com um olhar mais cativo aos problemas que sofrem àqueles que não conseguem se defender do mal dos que se julgam superiores, falo dos portadores da síndrome de Down, das crianças com microcefalia, dos autistas, enfim, de todos que por não ser homossexuais, negros e esquerdistas, não são vistos, ouvidos ou defendidos. Produções como essa nos fazem parar e perceber quão covarde é a índole humana, predatória e violenta, diante de quem é inofensivo.

Acompanhamos nesta produção a estória de Memo (Aras Bulut Iynemli), um pai solteiro com deficiência intelectual que vive em um simples e pequeno vilarejo na Turquia com a filha Ova (Nisa Sofiya Aksongur) e a avó, Fatma (Celile Toyon Uysal). Bondoso, meigo e amável, o rapaz é querido por todos os moradores, contudo, Ova sofre bullying no colégio e apesar da garota saber que o pai especial é o “motivo” de ser humilhada, ela o ama e expressa isso com naturalidade e intensidade.

O filme aborda bem quem são os personagens e seus dramas antes de mostrar a situação-problema na qual todo o filme se desenvolverá: Memo se envolve no acidente que mata a filha de um importante oficial do exército turco (Yurdaer Okur). O oficial usa Nemo como bode expiatório de seu ódio pela perda da filha e ordena a prisão deste, enviando-o para uma prisão a fim de aguardar a pena de morte por enforcamento.

Aras Bulut Iynemli interpreta com tanta naturalidade as limitações que um deficiente mental apresenta no seu dia a dia ,ao mesmo tempo que se enche de toda uma inocência e amabilidade, também geralmente característicos de quem possui tal limitação, que, ouso dizer, supera a atuação de nomes como Sean Penn e Dustin Hoffman ao viver personagens com essa mesma similitude.

Ao chegar na prisão ele é espancado pelos colegas da cela 7, mas é incapaz de sentir raiva ou medo dos seus agressores que, ao ser advertidos que não devem ferí-lo, acabam percebendo como valores tão arduamente cultivados em pessoas virtuosas como perdão, bondade e misericórdia, transbordam no novo companheiro, ao ponto de perceberem ser impossível ele ter cometido o crime de que é acusado.

Ao longo do filme Ova também interage com os detentos e, numa cena cheia de profundo simbolismo, atua como agente redentor de cada um deles. Milagre na cela 7 revela que o ser humano, quando abraça a chama divina do amor dentro de si, se torna o verdadeiro milagre que precisamos ver neste mundo.

Meu tio Diógenes Antônio é, igual à Memo, um ser singular e especial, grande violonista, a ele dedico este texto e o encerro com a frase que ele me disse nos meus dias mais escuros e perturbadores:

“Não tenho vergonha de ser diferente e pequeno, sou feliz, pois sem minhas limitações eu não estaria tocando meu violão e não amaria a vida como se ela fosse a mais espetacular música já criada. Tenho pena dos perfeitos, pois eles demoram mais tempo para enxergarem e vencerem suas próprias deficiências.”

Carlos Alberto

Formado em Letras pela UFPE e fluente em inglês e espanhol com certificados internacionais em ambas as línguas. Escreve artigos sobre literatura , educação, cinema e política. Palestrante e debatedor dos temas já mencionados.

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