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12 mentiras que você sempre ouviu sobre Agrotóxicos

Não há tema que cause mais opiniões quase unânimes contra do que os agrotóxicos. No pensamento comum a palavra agrotóxico materializa-se quase como a própria definição do mal. Mas nada está tão obscuramente enganoso frente a realidade científica, que valida com grande margem de certeza, a existência e o uso de destas substâncias com amplos benefícios de todos, agricultores e consumidores.

Assim, apresentamos as 12 mentiras sobre os agrotóxicos que você sempre ouviu, explicadas e rebatidas tecnicamente, sobre esse insumo essencial da agricultura.

  1. Agrotóxicos são venenos.

Os agrotóxicos (ou como devem ser mais adequadamente chamados, pesticidas, defensivos, ou agroquímicos), são medicamentos para as plantas. Isso é tão claro que diversas substâncias utilizadas para tratamento de doenças humanas, como antimicóticos e antiparasitários para combater fungos, piolho e sarna, são também agrotóxicos permitidos para a aplicação no campo, como exemplo: cloreto de benzalcônio, tiabendazol e deltametrina.

Os agroquímicos contribuem enormemente para o bom desenvolvimento e produtividade dos vegetais. Os defensivos não atacam as plantas mas sim as bactérias, fungos, parasitas, insetos, e ervas daninhas que causam doenças e que prejudicam os vegetais cultivados. Por isso o nome agrotóxico está errado.

Se compararmos a toxicidade dos pesticidas com outras substâncias vemos que os atuais pesticidas são muito seguros. O sulfato de cobre (fungicida permitido para agricultura orgânica) tem Dose Letal (DL50 , medida em mg de substância por Kg de peso corpóreo, testado em animais de experimentação) de 300mg/Kg p.c., muito menor que a dose segura de muitos pesticidas comuns atuais. Pegando como exemplo certos nutrientes de alimentos, enquanto que a cafeína (presente no café) tem dose letal de 190mg/Kg p.c. e a teobromina (presente no chocolate) 10mg/Kg p.c., o tão mal falado e combatido herbicida glifosato tem dose letal de 5.600 mg/Kg p.c., isto é, muito superior, e por consequência, muito mais seguro que a cafeína ou a teobromina.

Assim, fazendo um cálculo baseado na concentração destas substancias nos alimentos, seria necessário 33 litros de café para possivelmente causar a morte de um adulto, ou 6,0 kg a 12 Kg de chocolate; enquanto que para morrer ingerindo o herbicida glifosato seriam necessários 392 litros deste, puro, sem diluição, e bebido de uma só vez ! Literalmente impossível.

  1. Agrotóxicos matam.

Nenhuma morte ou intoxicação de consumidores pela ingestão de alimentos foi confirmada no mundo até hoje. As intoxicações e mortes não intencionais pelos pesticidas no mundo todo está claramente ligadas ao trabalho no campo em falhas graves de uso e manipulação. Não é o consumidor final do alimento que está em risco, mas sim quem, no campo, faz mal uso, por displicência, ignorância ou acidente.

No mundo todo a Organização Mundial da Saúde (OMS) informa que as mortes se devem a: uso de substâncias proibidas, aplicações feitas de maneira não segura, falta de informação sobre aplicação, estocagem, manipulação e descarte, ausência ou má condições de equipamentos. E ainda que as intoxicações propositais com fins de suicídio representam 2/3 dos casos de intoxicação. Mesmo assim, tomando doses altas ingerindo “direto do gargalo” as mortes em suicídios são baixas, 400 mil dentro de 2 a 5 milhões casos de envenenamentos no mundo.

O suicídio pode ocorrer por qualquer meio como inalação gás de cozinha ou de escapamento de carros, ou ingestão de medicamentos, ou de produtos de limpeza. Dados mostram que medicamentos são muito mais comuns nos casos de intoxicação que pesticidas. No Brasil, pelos dados do Sinitox (2013), ocorreram 42.127 intoxicações. Por medicamentos (28,45%), por saneantes domissanitários (8,55%), por pesticidas (4,53%). Sendo mais da metade envolvendo tentativa de suicídio, com 64 mortes (0,15% dos casos totais).

  1. Agrotóxicos foram inventados como armas químicas para a guerra.

A estória mais famosa sobre essa afirmação é o uso do “Agente Laranja” usado pelos americanos na Guerra do Vietnam como desfolhante e aplicados na mata fechada para revelar esconderijos de guerrilheiros inimigos. A substância que compõem este agente químico é o 2,4,5-T, que em nada tem a haver com o herbicida 2,4-D usado até hoje para controle de ervas daninhas. A semelhança dos nomes pode ter sido a origem desta confusão.

As substâncias hoje autorizadas para uso na agricultura são a 3° e até 4° geração de agroquímicos, isso quer dizer que substâncias altamente tóxicas do começo do século XX que continham metais pesados como mercúrio, arsênio e chumbo já foram descartadas pelos fabricantes, proibidas por autoridades e estão a muito fora do alcance para uso, pois foram substituídas por outras infinitamente mais seguras e eficazes.

  1. No Brasil muitas pessoas são intoxicadas pelos agrotóxicos.

Os casos dramáticos e sensacionalistas da TV e dos jornais, mostrando pessoas doentes e incapacitados devido ao uso e contato prolongado com pesticidas, ocorrem sempre com os trabalhadores ligados a agricultura. Sem treinamento, sem habilidade adequada e sem os cuidados de manipulação, aplicação, limpeza, higienização antes e depois de mexer com as substâncias, certamente, depois de vários anos literalmente “tomando banhos” durante a aplicação na lavoura, aspirando, engolindo e absorvendo pela pele e olhos, acabam sofrendo danos à saúde. Só 15% dos agricultores usam equipamento de proteção.

É previsível nesses casos de grande exposição, que qualquer substância (mesmo que essa substância fosse combustível, desinfetante domiciliar ou desodorante) causaria problemas de saúde depois de anos de uso. São infelizes casos totalmente evitáveis.

  1. Agrotóxico causa câncer.

Diversas substâncias são capazes de causar câncer, inclusive diversos medicamento e tratamentos médicos, como alguns antibióticos e Raios-X. Uma das fontes desta argumentação é o IARC (International Agency of Reserch on Cancer). Nesse, o herbicida glifosato e os inseticidas malationa e diazinona são considerados como provavelmente cancerígeno, e os inseticidas tetraclorvinfós e parationa são considerados possivelmente cancerígenos. Grave, não ? Nem tanto.

Quer saber o que mais está avaliado pela IARC como possivelmente cancerígeno ? Gingko biloba, café, e talco usado na região íntima. O que é considerado como provavelmente cancerígeno ? Carne vermelha. E mais alarmante ainda, quais agentes são definidos como “com certeza” carcinogênicos: carne processada, bebida alcoólica, luz ultravioleta e luz solar.

O site do Instituto Nacional do Câncer (INCA), mostra os fatores de risco principais para câncer: tabagismo, alimentação inadequada, excesso de peso, bebidas alcoólicas, exposição solar, radiações e medicamentos. Não há menção de agrotóxicos.

Temos no dia a dia normal muito mais chance de entrar em contato com todos esses agentes (isto é, o risco é maior) do que com os resíduos pesticidas que, quando raramente chegam até o consumidor pelos alimentos, chegam em quantidades na escala de microgramas por Kg de alimento, (algo como um grão de areia em uma melancia), exatamente por isso são chamados de “resíduos” .

  1. A agricultura do Brasil é campeã mundial de consumo de agrotóxicos.

O grande consumo de pesticidas é proporcional a área plantada, se o brasil tem umas das maiores áreas cultivadas do mundo é lógico e esperado que o consumo seja também grande. Mesmo considerando isso, o país não é um dos primeiros no ranking de uso de pesticidas.

Fazendo um cálculo baseado no valor do pesticida dividido pelo volume de produção de vegetais, o país está atrás dos desenvolvidos: Japão, Itália, Alemanha, França, Reino Unido, Canadá, Estados Unidos. Numa relação valor por tonelada de produto, Brasil fica em 13° lugar. O Brasil produz 142 quilos de alimento para cada dólar gasto com pesticidas. O Japão, primeiro colocado, produz só 8 Kg de alimentos por dólar. Pelo ranking da FAO, ligada a Organização Mundial da Saúde, o Brasil ocupa o 44° lugar.

As maiores culturas de exportação no Brasil como soja, café, cana de açúcar, suco de laranja, frutas e castanhas são também extensamente exportadas para Japão, Europa e Estados Unidos, países com legislação e consumidores rigorosíssimos quanto a qualidade e segurança. Assim, fica claro que resíduos nos alimentos está longe de ser um problema aqui ou lá fora.

Interessante o exemplar Japão ser o verdadeiro campeão mundial de consumo e essa informação não causar desconforto nas autoridades do país nem na imprensa internacional. Lembrando ainda que a expectativa de vida lá é uma das maiores e a qualidade de vida da população uma das melhores do mundo, isso, com os japoneses se alimentando de vários produtos da agricultura do Brasil.

  1. O brasileiro consome 2 litros de agrotóxico por ano.

Essa informação é baseada em um cálculo tão grosseiro da imprensa que causa um pouco de vergonha de explicar. Ele é obtido simplesmente dividindo a quantidade de pesticida usado no Brasil pelo número total de habitantes, e considera que 100% dos pesticidas chegam ao organismo de todos os brasileiros.

Primeiramente, devemos saber que o processamento do alimentos inativa e elimina o pesticida que ainda pode existir da matéria-prima vegetal. Em segundo lugar, do total de pesticidas usados, 80% são feitos nos seguintes cultivos: Soja 52%, Cana de açúcar 10%, Milho 10%, Algodão 7,5%. Da soja metade é exportada, na forma de soja em grão e farelo de soja. O que fica é processado em óleo e farela (alimentação animal). Só 1% chega a mesa do brasileiro. Do milho ínfima parte chega a alimentação, o preparo elimina resíduos. Da cana de açúcar, maior parte é usado para produzir combustível. Algodão vira tecido, e não comida. Outros usos como nas florestas cultivadas, para obtenção de madeira, e em flores ornamentais podem deixar resíduos mas também não são ingeridos.

Além disso, nem toda substância é aplicada no vegetal. Há comumente aplicação para matar sementes de ervas daninhas no solo, antes da plantação, e nesse solo, em pouco tempo a substância se degrada. Quando aplicada diretamente nos vegetais, os pesticidas não permanecem inalterados e acumulados, eles são transformados e posteriormente eliminados, assim como um medicamento comum, que se toma duas ou mais doses porque a primeira dose depois de fazer seu efeito é inativada e eliminada do organismo. Lembra que pesticidas são remédios contra as doenças dos vegetais ? Então.

  1. Os agrotóxicos permitidos no Brasil são proibidos em países desenvolvidos.

O Brasil participa de todos os fóruns internacionais sobre o tema pesticidas, como OCDE e CODEX ALIMENTARIUS, ligado a OMS. Como participante destes fóruns o Brasil segue os mesmos procedimentos e requisitos adotadas em todo mundo. É um dos poucos países que faz o chamado “ciclo completo de avaliação”, procedimento que nas Américas só é feito também por Canadá e Estados Unidos.

Aqui a agricultura é predominantemente tropical, com clima quente e úmido. Devido aos fatores favoráveis, certas culturas podem produzir 2 ou 3 safras por ano, e por isso a agricultura é alvo de pragas o ano todo. Aqui não há o efeito esterilizando do solo sobre as pragas, quando o solo recebe neve como nos países de clima frio.

Muitas vezes a não utilização, ou proibição, de certos defensivos no exterior não tem a haver com a toxidade. Uma das causas da não utilização de certos pesticidas em países como os da Europa é falta de necessidades desses defensivos lá. Uma cultura como da azeitona necessita de defensivos diferentes da cultura de cana-de-açúcar, por exemplo. Então é irracional registrar, produzir e vender defensivo para uso em azeitona no Brasil, assim como defensivo para praga de cana na Europa.  Pesticidas úteis contra uma praga de clima frio são inúteis para uma agricultura tropical, e vice e versa. O inseticida benzoato emamectina, por exemplo, é um caso inverso dessa alegação, é autorizado na Europa em culturas como pêssego e ameixa, nas quais no Brasil é proibido.

Há também casos de desinteresse das empresas ligadas a produção e aplicação de pesticidas que interrompe sua produção, e a descontinuidade de produção resulta na proibição. Há o caso clássico do inseticida e acaricida aldicarbe, conhecido como “chumbinho” (sim, ele é um agrotóxico hoje proibido mas ainda importado ilegalmente) que não é produzido no Brasil porque o único fabricante restante não teve mais interesse comercial depois de diversas restrições impostas na produção e comercialização, causando a descontinuidade de comercialização e encerramento de importação, distribuição e utilização do produto.

  1. Análise de produtos no mercado mostra que estamos sendo envenenados.

Os últimos anos mostraram claramente que o índice de violações com relação aos pesticidas foi mínimo. Mesmo dentro dessas irregularidades elas não significam que as quantidades de resíduos causem danos à saúde, só significa que algum parâmetro está em desconformidade com a legislação. A maioria dos casos de irregularidade é pelo uso de pesticidas não autorizados para a cultura, geralmente culturas menores, ex. pitanga, acerola e kiwi. Quase 99% das amostras de alimentos entre 2013 e 2015 estão livres de resíduos de acordo com o P.A.R.A, programa de analise de resíduos da ANVISA de 2016. Pelas análises do CATI do Ceagesp de 2006, só 1% das amostras estavam com limite do LMR ultrapassado, e 70,3% não tinham nenhum resíduo.

Resultados do PNCRC do Ministério da Agricultura de 2015 mostrou que amostras de alho, amendoim, banana, café, cebola, feijão, soja e trigo estão 100% dentro dos limites estabelecidos ou não possuem nada de resíduos. Maça, arroz, mamão, manga, milho e tomate estão com conformidades entre 91% e 96%. E de forma geral 99% dos vegetais analisados estavam dentro dos limites da legislação. Poucas vezes na ciência analítica resultados tão esmagadores de conformidade como esses aparecem em um programa de qualidade.

  1. Agricultores utilizam agrotóxicos porque pensam somente no lucro e não na saúde das pessoas.

Como já dito, a primeira e única saúde a ser afetada pelo uso inadequado dos defensivos é o trabalhador rural. Principalmente dos pequenos produtores que são afetados devido ao desconhecimento de como usar e se proteger adequadamente. Verificou-se que percentual significativo dos aplicadores nos estabelecimentos de agricultura familiar do estado mais rico e desenvolvido do Brasil, São Paulo, são pessoas com somente nível básico de ensino, não tem treinamento técnico e aprendem a aplicar pesticida com familiares ou outros agricultores.

Além disso, o defensivo agrícola representa 30% do custo de produção para o produtor. Se um produtor não precisasse usar, lucraria 30% a mais e evitaria correr esses riscos. Mas as vantagens de produtividade, tempo menor entre plantio e colheita e diminuição do trabalho manual exaustivo sobrepõem muito as desvantagens do uso. Então, eles não podem se dar ao luxo de abrir mão deles.

  1. alimentos orgânicos são melhores porque não possuem agrotóxicos

Agricultura orgânica utiliza diversos insumos, incluindo substância para controle de pragas, isto é, pesticidas, mas geralmente o nome é camuflado para não causar má impressão e também para sustentar esse mito.

Para esclarecimento desta informação eu recomendo a leitura do outro artigo 10 mentiras que você sempre ouviu sobre alimentos orgânicos.

  1. Novos registros de agrotóxicos devem ser inibidos e proibidos.

Quem conhece um pouco de tecnologia sabe que devemos querer exatamente o contrário. Pense no caso dos automóveis. É logico defender carros ultrapassados, com mecânica mais poluente, menos eficientes, mais barulhentos, com pouco conforto e com menos segurança, com o argumento: “já existem muitos carros por aí, não precisamos de mais” ? Ou é mais lógico querer carros mais modernos, econômicos e com diversos equipamentos de segurança ?

Quanto mais novos pesticidas permitidos e registrados melhor para todos. Com isso, mais opções de uso em diferentes lavouras existirão e mais variedades adequadas para cada caso estarão disponíveis no mercado. Quanto mais produtores neste mercado maior a concorrência, possibilitando vantagens ao produtor. Também mais substâncias modernas serão usadas e as obsoletas e menos seguras cairão em desuso. Por lei, novas substâncias devem ser obrigatoriamente mais seguras e vantajosas que seu similar para obterem seu registro.

Proibição e inibição de comércio deste insumo vital para a agricultura só estimula o crime, o mercado ilegal, o uso pelo agricultor de modo errado e perigoso do produto sem origem, sem controle oficial, sem rótulo, sem orientações de uso, sem medidas conhecidas em caso de emergências. Além disso, com mais opções disponíveis, menos contrabando, menos falsificações, menos crimes que visam esse mercado ilegal e lucrativo acontecerão.

Referências bibliográficas:

Graziano, Xico. Agricultura: fatos e mitos: Fundamentos sobre um debate racional sobre o Agro – São Paulo: Baraúna, 2020.

Ministério da Saúde. Guia Alimentar da População Brasileira, 2° edição, Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

Vital, Nicholas. Agradeça aos Agrotóxicos por estar vivo. 2° ed. Rio de Janeiro: Record, 2017.

Steven M. Helfand; Vanessa da Fonseca Pereira; Wagner Lopes Soares. Pequenos e médios produtores na agricultura brasileira-Situação atual e perspectivas

Maria Carlota Meloni Vicente; Celma da Silva Lago Baptistella; Paulo José Coelho; Arnaldo Lopes Júnior. Perfil do aplicador de agrotóxicos na agricultura paulista. Informações Econômicas, SP, v.28, n.11, nov. 1998.

Mapacast, Episódio 4 – Defensivos agrícolas. disponível em: <https://www.gov.br/agricultura/pt-br/centrais-de-conteudo/audios/mapacast/&gt;

PFernandes

Colunista associado para o Brasil em Duna Press Jornal e Magazine, reportando os assuntos e informações sobre atualidades sócio-políticas e econômicas da região.

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